domingo, 14 de outubro de 2012

A Favor ou Contra

 Uma Cena no Tribunal de Pequenos Delitos em Manchester


- JÁ DISSE que não o roubei. Comprei-o! - repetia, até que por fim os magistrados se viram obrigados a mandar que se calasse.

Deduzia-se que Kelly fora preso, acusado de ter roubado um relógio de bolso. Não havia dúvida alguma de que o relógio tinha sido roubado e que fora encontrado em poder de Kelly, o que constituía, na opinião tanto dos policiais como dos magistrados, prova suficiente para o condenar. Justamente no momento em que os magistrados pareciam ter chegado a uma decisão quanto à pena a aplicar a Kelly, pedi licença para depor como testemunha.



- O que deseja? - perguntou o magistrado.

- Quero falar algo a respeito deste caso, senhor.

Ao ouvir minhas palavras, Kelly virou-se para mim, encolerizado:

- Não queiram ouvi-lo. Ele nada sabe disto. Só vai mentir com o propósito de me incriminar. Quer agravar a minha pena!

Foi quase inútil eu dizer a Kelly que sossegasse e que me escutasse. Parecia julgar que, vestindo eu a farda de sargento da Polícia, não podia deixar de ser contra ele. Finalmente os magistrados conseguiram fazê-lo calar-se, e me mandaram depor.

- Há algumas semanas, eu levava, de trem, dois presos para a cadeia de Strangeways. Eu estava sentado de um lado do vagão e os dois presos estavam sentados do lado oposto. Ouvi um deles dizer ao seu companheiro:

- Enganei o Kelly a alguns dias!

- Ah! Sim? E como fez isso? - perguntou o outro.

- Vendi a ele um relógio por trinta shillings*, e nem sequer cinco shillings valia!

Como se transformaram os rostos de todos no tribunal! Quanto a Kelly, olhou para mim como se quisesse me beijar! Logo se vê que foi absolvido, apesar das provas circunstanciais que lhe eram contrárias. O meu depoimento pesou mais do que tudo quanto havia contra ele. Porém, entenda que se ele tivesse conseguido o seu desejo de me impedir de falar, nunca teria chegado a descobrir que, afinal, só nutria a maior boa vontade para com ele.

É assim mesmo que muitos tratam a Deus. Não O querem ouvir, pois julgam que é contra eles, quando na verdade Deus é a favor deles. "Porque Deus enviou Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele" [1].

Kelly era inocente; mas o coração de Deus pode, com toda a justiça, sentir boa vontade para com o culpado, absolvendo-o e deixando-o sair em liberdade. Não há nenhum tribunal que possa assim proceder sem sacrificar seu nome e caráter. Porém Deus pode ser, ao mesmo tempo, um "Deus Justo e Salvador" [2]. Pode ser "Justo e Justificador daquele que tem fé em Jesus" [3]. E pode ainda ser Aquele "que justifica o ímpio" [4].

Na verdade, Deus, que parece ser contra o homem, como testemunha de acusação, tem por nós muito amor, o que nos leva à seguinte questão: Como pode esse Deus justo, com base na justiça perfeita, perdoar e libertar o homem, quando o próprio Deus já demonstrou ser o homem culpado?

A resposta é: Por meio da substituição. Esta é a única resposta possível. Na Cruz de Cristo vemos evidenciado o amor de Deus para com o pecador, pela dádiva do Seu Filho, o ÚNICO capaz de tomar o lugar do pecador, por ser Ele próprio isento de pecado. Cristo levou Ele mesmo os pecados do pecador [5], padeceu por amor do pecador [6], morreu pelo pecador [7], e, portanto, o ímpio pecador pode ser perdoado e sair livre.

*Shilling é uma antiga moeda britânica

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares