terça-feira, 17 de setembro de 2013

Eu Era Cego, Mas Agora Vejo

Nasci cego. Pode ser difícil para qualquer pessoa que leia estas linhas entender o que é nunca ter sido capaz de enxergar coisa alguma. Encontrei muitos obstáculos e desde a infância as coisas sempre foram mais difíceis por eu ser cego. Era difícil estudar. Pessoas que tivessem paciência e que gastassem seu tempo para ensinar alguém diferente eram difíceis de encontrar. Andar sozinho nas calçadas de minha cidade era outro problema que tinha que enfrentar. As calçadas tinham muitos degraus; e com frequência cada passo podia trazer a surpresa de uma queda ou algum obstáculo inesperado, como algo que me batesse no rosto. 

Preconceito


Havia outro problema que eu ainda tinha que enfrentar, algo comum a todas as pessoas que nascem com alguma deficiência física: PRECONCEITO. Muitos acham que uma criança cega ou com algum outro problema físico seja também mentalmente retardada ou incapaz de levar uma vida normal. Mas apesar de todas as dificuldades, fui aprendendo a "enxergar" com os ouvidos, usando o tato e até mesmo pelos sentidos do olfato ou o paladar como meios para "ver" o que havia ao meu redor. 

Adolescência 


Logo veio a adolescência e o comportamento rebelde comum a esta idade. Ao meu comportamento fui somando as mágoas de ser diferente. Era como se tivesse chegado a hora de provar a mim mesmo e aos outros do que eu era capaz. Nos meus anos de adolescente eu já estava envolvido com a música, tendo até começado a tocar e cantar onde quer que fosse convidado. Não demorou para encontrar amigos que me oferecessem uma válvula de escape para meus problemas. Foi assim que ingressei no horrível mundo da bebida e das drogas, fumando maconha, cheirando cola e chegando até a consumir cocaína. Me entristece lembrar as muitas vezes em que envergonhei meus pais, cambaleando bêbado ou drogado e desrespeitando aqueles que me amavam.

Alguma Esperança? 


Cada dia eu afundava mais no vício e na depravação, e me tornava cada vez mais rebelde contra tudo e contra todos. Minha vida, que tinha começado nas dificuldades da falta de luz, mergulhou nas trevas cada vez mais densas do desespero. A solução para meus problemas parecia impossível. Como poderia eu, viciado e cego, dar a volta por cima? Como poderia existir qualquer esperança para um perdido como eu?

Alguém Morreu Por Mim! 


Um dia alguém resolveu gastar seu tempo comigo. Sentou-se ao meu lado e começou a falar de uma solução que nem me passava pela cabeça. Esta pessoa me falou de Cristo. Explicou que toda a ruína de minha vida era causada pelo fato de eu ser um pecador perdido. Falou-me que Deus me amava e queria me salvar, não apenas de uma vida de vícios e pecados, mas de uma eternidade de tormento separado de Deus. Jesus havia morrido por mim. Ele havia sido pregado numa cruz para me salvar. Ele conhecia a minha dor e os problemas que eu passava. Ele até sabia o que era ficar sem enxergar. Para provar o Seu amor, Ele teve Seus olhos vendados e foi esmurrado sem reclamar. Ele tinha enfrentado as mais densas trevas na cruz; e fez tudo aquilo por causa de mim.

Duplamente Cego 


Cada palavra que aquela pessoa falava tocava fundo em meu coração. A mensagem era clara: havia uma esperança até para alguém como eu. Começava a entender que era duplamente cego. Eu era incapaz de enxergar o amor de Deus - não apenas era naturalmente cego como também espiritualmente cego. Apesar de toda a destruição que o vício causava em meu corpo, eu ainda esperava poder alcançar a fama, ganhar dinheiro e de algum modo conseguir a felicidade. Então uma passagem da Bíblia abalou toda essa minha confiança: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus 16:26) Mas apesar daquela palavra tocar meu coração, este continuava endurecido. Minha resposta àquele que com tanto amor me indicava o caminho do céu foi em tom de desafio: "Só me converterei a Cristo se Deus falar em meu coração".

Numa Festa 


Terça-feira, 15 de agosto de 1995. Podia ouvir ao longe o barulho das ondas do mar quebrando na praia de Areia Branca. As vozes alegres e as risadas das pessoas ao meu redor não eram capazes de abafar a angústia que tomava conta de meu coração. Eu havia sido contratado para tocar e cantar para alegrar as pessoas numa festa, mas eu mesmo estava triste. Durante um intervalo, sentado naquele bar com um copo de bebida na mão, meus pensamentos estavam longe da festa. Pensava na falta de paz e no meu destino eterno. As palavras de Jesus me perseguiam: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30). 

"A Partir de Hoje..." 


Posso me recordar muito bem do que aconteceu a seguir. Passava das duas horas da tarde quando Deus falou claramente em meu coração: "Wilton, seu lugar não é aqui". Tomei uma decisão; levantei-me e, pegando o microfone que tinha usado até aquele momento para cantar e animar a festa, declarei para todos ouvirem: "A partir de hoje, sou crente em Jesus!" 

Das Trevas Para A Luz 


A partir daquele dia estava salvo. Deus fez uma obra em meu coração e em minha vida, libertando-me das drogas e da vida depravada que havia levado até então. Eu, que havia sido duplamente cego, agora podia ver a luz do céu. A porta estava aberta para mim. Continuo sem poder enxergar as coisas ao meu redor, mas posso enxergar a luz que ilumina minha vida e essa luz é Jesus. Ele trouxe paz ao meu coração. Ele tirou-me das trevas e me levou para a Sua radiante luz. 

Uma Esposa 


Mas Deus não parou aí. Ele ainda tinha outros planos para minha vida. Quase um ano e meio após minha conversão, conheci uma jovem chamada Valdirene, também convertida a Cristo. Logo percebi que a amava. Dúvidas encheram minha mente; "Quem iria se interessar por um cego como eu?" Bem, Jesus se interessou a ponto de morrer na cruz por mim. Logo Ele estaria cuidando também para que meu amor por Valdirene fosse correspondido. No dia 31 de julho de 1997 nos casamos e somos muito felizes. Haverá coisa alguma impossível a Deus? 

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