domingo, 11 de outubro de 2020

O Pequeno Presente de Nellie

Há muitos anos, fui convidado a pregar aos condenados na prisão estadual da cidade de Michigan. Sentei-me na plataforma enquanto os prisioneiros marchavam, 700 homens, jovens e velhos. Eles marchavam em sincronia, cada um com a mão no ombro do homem à sua frente. Dada a palavra de comando, eles se sentaram. Dentre eles havia setenta e seis “lifers”, como eram chamados os homens condenados à prisão perpétua por assassinato.

Depois de cantar, levantei-me para pregar, mas eu mal conseguia falar em meio às lágrimas. Desconsiderando todas as regras da prisão, desci da plataforma e caminhei pelo corredor entre os homens, pegando um e depois outro pela mão e orando por eles. No fim da fileira de “lifers” estava sentado um homem que, mais do que os outros, parecia endurecido por seus pecados. Seu rosto estava marcado com cicatrizes. Parecia que poderia se tornar um demônio encarnado se estimulado à raiva. Coloquei minha mão em seu ombro, chorei e orei com ele e por ele.

Quando o serviço acabou, o governador me disse: “Bem, Kain, você sabe que quebrou as regras da prisão ao deixar a plataforma?”

“Sim, governador, mas eu queria me aproximar daqueles homens solitários e orar por eles, e falar-lhes sobre o amor de Jesus, o Salvador. Ele veio ‘buscar e salvar o que se havia perdido’ (Lucas 19:10). ‘Este [Jesus] recebe pecadores, e come com eles’ (Lucas 15:2).

“Você se lembra”, perguntou o governador, “do homem no final da fila dos ‘lifers’? Tom Galson foi mandado para cá cerca de oito anos atrás por assassinato. Ele era, sem dúvida, um dos tipos mais desesperados e cruéis que já recebemos, e, como esperado, nos deu muitos problemas.

Conhecendo Nellie

“Cerca de seis anos atrás, o dever me obrigou a passar a noite na prisão, em vez de ir para casa como eu esperava. Cedo de manhã saí da prisão para minha casa, meus bolsos cheios de presentes para minha filha. Era uma manhã amargamente fria, e eu abotoei meu casaco para me proteger do vento cortante que vinha do lago. Enquanto ne apressava, pensei ter visto alguém se escondendo na sombra da parede da prisão. Parei e olhei um pouco mais de perto, e então vi uma garotinha, em um vestido mirrado, com os pés descalços enfiados em um par de sapatos surrados. Em sua mão ela segurava com força um pequeno pacote de papel. Querendo saber quem era e por que estava fora de casa tão cedo de manhã, e ainda assim cansado demais para me interessar, me apressei. Ouvindo alguém me seguir, parei, me virei e vi a mesma criança de aparência negligenciada.

 “'O que você quer?' Perguntei bruscamente.

“'Você é o governador da prisão, senhor?'

“'Sim. Quem é você, e por que você não está em casa?'

“'Por favor, senhor, eu não tenho casa. A mamãe morreu há duas semanas, e ela me disse, logo antes de morrer, que o papai, Tom Galson, estava na prisão, e ela pensou que talvez ele gostaria de ver sua filha, agora que a mamãe está morta. Por favor, você não pode me deixar ver meu papai? Eu quero lhe dar um presente.'

“'Não', respondi rispidamente. 'Você terá que esperar até o dia de visitas', e continuei a andar”.

Compaixão

“Eu não tinha dados muitos passos quando senti um puxão em meu casaco, e uma voz suplicante dizendo: 'Por favor, não vá'. Eu parei mais uma vez e olhei para aquele rosto magro e suplicante diante de mim. Grandes lágrimas brotaram de seus olhos enquanto seu queixo tremia de emoção.

“'Senhor', disse ela, 'se eu fosse sua filhinha, e a mamãe de sua filhinha tivesse morrido no abrigo, e seu papai estivesse na prisão, e ela não tivesse para onde ir e ninguém a amasse, o senhor não acha que ela iria querer ver seu papai? E se sua filhinha viesse a mim, se eu fosse governadora da prisão, e me pedisse que por favor deixasse ver seu papai para lhe dar um presente, o senhor não acha que eu diria Sim?’

“A essa altura, eu tinha um grande nó na garganta, e meus olhos estavam marejados de lágrimas. Respondi: 'Sim, minha garotinha, acho que você diria Sim, e você poderá ver seu papai.' Tomando-a pela mão, corri de volta para a prisão, pensando na minha própria filhinha em casa. Cheguei em meu escritório e pedi-lhe que se achegasse perto do fogão quente enquanto eu enviava um guarda para trazer Tom Galson de sua cela. Logo que chegou ao escritório, ele viu a garotinha. Seu rosto se anuviou com uma carranca raivosa e, em um tom áspero e selvagem, gritou: 'Nellie, o que você está fazendo aqui? O que você quer? Volte para sua mãe.'

Coração Quebrantado

“'Por favor papai', soluçou a garotinha, 'mamãe está morta. Ela morreu há duas semanas no abrigo, e antes de morrer me disse para cuidar do pequeno Jimmie, porque você o amava tanto, e pediu-me que dissesse que ela amava você também – mas, papai', e sua voz rompeu em soluços e lágrimas, 'Jimmie morreu também, semana passada, e agora estou sozinha, papai, e – e eu pensei que talvez, como você amava o Jimmie, que você gostaria de ter um pequeno presente dele.'

“Então ela desembrulhou o pequeno pacote que carregava, até que encontrou um pequeno pacote de papel de seda, do qual ela tirou um pequeno cacho de cabelo e o colocou na mão de seu pai, dizendo: 'Eu o cortei da cabeça do querido Jimmie, papai, logo antes de o enterrarem.'

“A essa altura, Galson estava soluçando como uma criança, e assim também eu. Abaixando-se, ele pegou sua filha, pressionando-a convulsivamente contra seu peito enquanto seu grande corpo tremia de emoção reprimida.

 “A cena era sagrada demais para eu ficar olhando, então eu suavemente abri a porta e os deixei a sós. Em cerca de uma hora eu voltei. Galson estava sentado porto do fogão, com sua filhinha sobre seu joelho. Ele olhou para mim timidamente por um momento, e então disse: 'Governador, eu não tenho nenhum dinheiro'. Então, de repente, tirando sua jaqueta de prisão, disse: 'Não deixe minha filhinha sair neste dia frio com esse vestido mirrado. Permita-me dar-lhe este casaco. Trabalharei desde cedo até a tarde; farei qualquer coisa. Serei um homem. Por favor, governador, deixe-me cobri-la com esse casaco.' Lágrimas escorriam pelo rosto do homem outrora endurecido.

“'Não, Galson', eu disse, 'fique com o seu casaco; sua filhinha não vai sofrer. Vou levá-la para casa comigo e verei o que minha esposa pode fazer por ela.'

“'Deus o abençoe', soluçou Galson.

Mudança Permanente

“Levei a garota para minha casa. Ela ficou conosco por vários anos e se tornou uma cristã verdadeira pela fé no Senhor Jesus Cristo.”

O Livro de Deus mostra a necessidade do homem e o remédio de Deus. “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23).

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

Tom Galson também se converteu e não deu mais trabalho às autoridades da prisão.

Muitos anos mais tarde, visitei a prisão novamente. O governador me perguntou: “Kain, você gostaria de ver Tom Galson, cuja história lhe contei alguns anos atrás?”

“Sim, eu gostaria”, respondi.

O governador me levou até uma rua tranquila e, parando em frente a uma casa bem arrumada, bateu à porta. A porta foi aberta por uma mulher alegre, que cumprimentou o governador cordialmente.

Entramos, e então o governador me apresentou a Nellie e a seu pai, que, graças à ajuda do governador, tinha recebido um perdão e estava agora vivendo uma vida cristã íntegra com sua filha, cujo pequeno presente tinha quebrantado seu duro coração.

“Cristo morreu pelos ímpios” (Romanos 5:6). E Ele morreu por VOCÊ! Confie n’Ele também!

“Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Romanos 5:6).

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