domingo, 22 de março de 2020

Como a Ovelha Perdida foi Encontrada

Ao entrar no casebre miserável em um distrito pouco habitado na Irlanda, olhei ao redor e não encontrei nenhum sinal de habitantes, a não uma senhora que se sentava agachada às brasas de uma lareira. Ela se levantou quando eu entrei e me ofereceu seu banquinho. Agradeci e, ao chegar mais perto, vi que havia em um canto da cabana um monte de palha, sobre o qual estava deitado um pobre moribundo. Eu me aproximei e vi um jovem de cerca de dezessete anos, evidentemente em estado de extremo sofrimento e exaustão e, como era de se temer, no último estágio de sua vida.

Seu olhos estavam fechados, mas ele os abriu enquanto eu me aproximava e me olhou com uma expressão de surpresa, como um animal assustado. Eu lhe disse, o mais calmamente possível, quem eu era e o motivo pelo qual eu tinha ido, e fiz-lhe algumas das perguntas mais simples possíveis sobre sua esperança de salvação. Ele não respondeu; ele parecia totalmente alheio ao que eu estava perguntando. Ao falar com ele com bondade e afeição, ele olhou para cima, e, pelas poucas palavras que proferiu, descobri que ele tinha ouvido algo sobre um Deus e um julgamento futuro, mas nunca ninguém o tinha ensinado a ler. As Escrituras Sagradas eram um livro selado para ele, e era totalmente ignorante sobre o caminho da salvação que nos é revelado no evangelho. Seus pensamentos sobre esse assunto eram como um quadro em branco.

Desespero


Fiquei impressionado com o desespero e desalento que ele expressava. Ali estava uma criatura, semelhante a mim, cuja alma imortal, aparentemente pendendo à beira da eternidade, estaria em breve salva ou perdida eternamente. Não havia tempo a perder, e o que eu deveria fazer? Que caminho eu deveria tomar para começar a ensiná-lo o básico do cristianismo?

Poucas vezes na minha vida eu tinha sentido um aperto tão grande dentro de mim. Eu não podia fazer nada, mas, por outro lado, Deus podia fazer tudo. Eu, portanto, elevei meu coração e pedi ao meu Pai celestial, pelo amor de Cristo, que me guiasse e que me abrisse, pelo Seu Espírito de sabedoria, um caminho para que eu apresentasse as boas novas da salvação, de modo que pudessem ser entendidas por aquele pobre garoto. Fiquei em silêncio por alguns momentos, enquanto orava silenciosamente e olhava, com profunda ansiedade, para o rapaz diante de mim. Ocorreu-me que eu deveria tentar descobrir até que ponto ia sua compreensão sobre outras coisas, e se poderia haver alguma esperança razoável de que me entendesse quando eu começasse a expor-lhe a mensagem do evangelho da salvação. Eu olhei para ele com uma piedade que eu sentia com grande sinceridade, e acho que ele percebeu esse olhar compassivo, pois parece ter se acalmado quando eu disse: "Meu pobre garoto, você está muito doente; você deve estar sofrendo muito".

"Sim, eu peguei uma gripe terrível; a tosse tira o meu fôlego e me machuca muito."

"Faz tempo que você está com essa tosse?", perguntei.

"Oh sim, faz muito tempo, já faz quase um ano."

"E como você pegou essa doença? Eu pensava que um garoto como você, criado em condições tão difíceis, fosse acostumado a esse ar das montanhas!"

"Ah", ele respondeu, "e assim eu era até aquela terrível noite. Era mais ao menos essa época do ano passado, quando uma das ovelhas se perdeu. Meu pai cuida de algumas ovelhas nas montanhas, e é assim que vivemos. Quando ele as contou aquela noite, havia uma faltando, e então ele me enviou para procurá-la."

Uma Noite Amarga


"Sem dúvida", respondi eu, "você sentiu a diferença do calor da lareira desta pequena cabana para o frio tremendo da montanha."

"Oh, sim! Havia neve no chão, e o vento me cortava, mas eu não me importei muito, pois estava ansioso demais por encontrar a ovelha do meu pai."

"E você a encontrou?", perguntei com maior interesse.

"Oh sim, eu tinha um longo e cansativo caminho a percorrer, mas nunca parei até encontrá-la."

"E como você a levou para casa? Sem dúvida você deve ter tido bastante dificuldade com isso também. Ela estava disposta a segui-lo?"

"Bem, eu preferi não confiar muito que ela me seguiria, e além disso ela estava cansada demais, então eu a coloquei sobre meus ombros e a carreguei assim até chegar em casa."

"Devem ter ficado muito felizes ao vê-lo retornando com a ovelha, não é mesmo?"

"Com certeza sim", respondeu. "Meu pai, minha mãe e as pessoas que moram aqui por perto que ficaram sabendo de nossa perda vieram na manhã seguinte para perguntar sobre a ovelha, pois os vizinhos aqui, quando se trata desses assuntos, são muito bondosos uns com os outros. Eles lamentaram, também, ao ouvirem que fiquei fora a noite inteira; já era manhã quando cheguei em casa, e no final, peguei esse resfriado. Minha mãe diz que nunca ficarei melhor agora; só Deus sabe. De qualquer modo, eu fiz o meu melhor para salvar a ovelha."

"Maravilha!", pensei. "Aqui está toda a história do evangelho. A ovelha se perdeu; o pai envia seu filho para buscá-la e recuperá-la. O filho vai de boa vontade, sofre tudo sem reclamar, e no final sacrifica sua vida para encontrar a ovelha. Quando ela é encontrada, ele a leva para casa sobre seus ombros, a devolve ao rebanho e se alegra com seus amigos e vizinhos pela ovelha que estava perdida, mas que foi encontrada." Minha oração foi respondida, o caminho que eu devia seguir tinha ficado claro, e pela graça de Deus eu aproveitei essa oportunidade. Expliquei ao pobre e moribundo garoto o plano da salvação, fazendo uso de sua própria simples e tocante história. Eu li para ele os poucos versículos no capítulo 15 do Evangelho de Lucas, onde o cuidado do pastor pela ovelha perdida é tão belamente expressado, e ele imediatamente percebeu a semelhança e me acompanhou com profundo interesse enquanto eu lhe explicava por inteiro o significado da parábola.

O Bom Pastor


O Senhor misericordiosamente abriu, não somente seu entendimento, mas também seu coração, para receber as coisas que falei. Ele próprio era a ovelha perdida, e Jesus Cristo, o Bom Pastor que foi enviado pelo Pai para buscá-lo, tendo deixado todas as alegrias daquela glória celestial com o Pai para vir à Terra e procurar por ele e outros perdidos como ele. Assim como o pobre garoto tinha suportado, sem reclamar, a congelante tempestade de neve e o vento cortante, assim também o bendito Salvador suportou a feroz contradição dos pecadores contra Ele próprio e o amargo juízo de um Deus santo e justo, sem abrir Sua boca para proferir uma palavra de queixa sequer. E, por fim, Ele entregou Sua vida preciosa para que pudéssemos ser regatados da destruição e levados em segurança para nosso lar eterno. Tampouco Ele deixaria Seus amados, quando regatados, andarem sozinhos pelo caminho perigoso -- Ele mesmo os leva sobre Seus ombros, regozijando-Se, para o rebanho celestial.

O pobre rapaz doente parecia beber tudo. Ele recebeu tudo. Ele entendeu tudo. Eu nunca vi uma prova tão clara do poder do Espírito divino aplicando a Palavra de Deus. Ele viveu, após nosso primeiro encontro, por apenas mais alguns dias. Eu não tive tempo de ler ou expor a ele nenhuma outra porção das Escrituras. Algumas vezes, não se conseguia ouvir nada além de uma tosse sufocante; outras vezes, dormia profundamente. Mas sempre que ele conseguia pensar e ouvir, esses versículos do capítulo 15 de Lucas o satisfaziam e animavam. Ele aceitou a Cristo como seu Salvador; ele orou sinceramente para ser levado para o lar, assim como a ovelha perdida, para os braços do Pastor celestial. Ele morreu humildemente, em paz, quase exultante, com o nome de "Jesus, meu Salvador e meu Pastor", as últimas palavras que saíram de sua boca.

"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos" (Isaías 53:6).

"Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10).

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